sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Empire of the Clouds - Iron Maiden cria e lança uma obra prima


  No dia 4 de setembro de 2015, a banda Iron Maiden, lançou seu décimo sexto álbum de estúdio, chamado The Book of Souls. 
  Nesse album, irei falar de uma música específica, chamada Empire of the Clouds.





  Empire of the Clouds é a maior música do Maiden, com 18 minutos, uma verdadeira obra prima que será analisada.
  Essa música conta a história de um dirigível, o R101, construído na década de 1920, um orgulho do império britânico.
  O dirigível era a maior embarcação rígida já construída, com 220 metros de comprimento. Desenhada para ser uma aeronave de luxo.




   Após quase três anos de construção, os primeiros testes mostraram que a aeronave mostrava problemas de peso. Na resolução desses problemas, as solução acabaram por deixar a nave ainda mais pesada.
  A pressão política sobre o Ministro do Ar, Lorde Chistopher Thompson era imensa. Devido aos grandes gastos e ao tempo de construção, foi decidido que o voo inaugural do R101 ocorreria em 4 de outubro de 1930.
  Ignorando todos os testes e avisos dos engenheiros, o R101 tem seu voo inaugural para Karashi (antiga Índia Britânica, hoje Paquistão). Nesse momento a música se inicia.

  “Empire of the Clouds” pode ser dividida em diversos momentos: a calmaria do início, expectativa de uma viagem promissora para os tripulantes e passageiros (linhas suaves e orquestradas); o voo em si, dentro do esperado, mas já com alguma preocupação devido aos problemas também enfrentados nos testes e potencial mudança no tempo (guitarras mais presentes, piano ao fundo, quase sufocado); o voo turbulento, as correções de problemas para manter a nave no curso, as mudanças na trajetória (o piano some, as guitarras tomam conta com arranjos individuais e ritmo cadenciado a princípio, mas que aceleram até o clímax); as rápidas tomadas de decisão, o desespero, as tentativas desesperadas de manter a nave no ar e no curso; o melancólico final. Tudo magistralmente acompanhado e executado pelos integrantes do Maiden.

  O início é caracterizado por uma bela melodia, uma linha principal executada no piano e no baixo combinada a suaves notas de guitarra, acompanhada também por violinos. Um trecho bastante calmo, emulando o clima naquela manhã de outubro que realmente parecia favorável, apesar das previsões contrárias:

To ride the storm, to an Empire of the Clouds
To ride the storm, they climbed aboard their silver ghost
To ride the storm, to a kingdom that will come
To ride the storm – and damn the rest, oblivion

Royalty and dignitaries, brandy and cigars
Grey lady, giant of the skies, you hold them in your arms
The millionth chance they laughed, to take down His Majesty’s craft
To India – they say – magic carpet float away
An October fateful day

  Membros da família real e oficiais de alto escalão enalteciam a grande embarcação de Sua Majestade, a maior já construída, em clima de celebração. Quando perguntados sobre a chance do R101 cair, a resposta era “uma em um milhão”. Debochando desta absurda possibilidade eles ordenaram o voo do “tapete mágico” para a Índia.

Mist is in the trees, stone sweats with the dew
The morning sunrise, red before the blue
Hanging at the mast, waiting for command
His Majesty’s airship, the R101

  A música muda levemente o arranjo de cordas, a guitarra passa a ser mais presente, bem como a bateria. As guitarras entram com maior peso agora – a música passa para seu segundo momento, o voo:

She’s the biggest vessel built by man, a giant of the skies
For all you unbelievers, the Titanic fits inside
Drum roll tight her canvas skin, silvered in the sun
Never tested with the fury, with the beating yet to come
The fury yet to come

  As guitarras ficam ainda mais intensas, suprimindo o piano presente deste o início. Uma tempestade pode ser vista a oeste, mas a tripulação decide prosseguir: a princípio porque era necessário corresponder às expectativas dos políticos preocupados com sua imagem, mas também por seu próprio ego – afinal, acreditavam conhecer a nave como a palma de suas mãos. Passageiros e tripulação foram apressados para que a partida acontecesse antes da tempestade. O R101 alçaria vôo a despeito de suas fragilidades, de seu ainda desconhecido Calcanhar de Aquiles:

In the gathering gloom a storm rising in the west
The coxswain stared into the plunging weather glass
We must go now, we must take our chance with fate
We must go now, for a politician he can’t be late

The airship crew awake for thirty hours at full stretch,
But the ship is in their backbone, every sinew, every inch
She never flew at full speed, a trial never done
Her fragile outer cover, her Achilles would become
An Achilles yet to come…

Sailors of the sky, a hardened breed
Loyal to the King, and an airship creed
The engines drum, the telegraph sounds
Release the cords that bind us to the ground

  O navegador alerta o capitão de que a nave é pesada demais para uma trajetória tão longa, apenas para ter seu conselho ignorado por seu superior.

Said the coxswain – Sir, she’s heavy, she’ll never make the flight
Said the captain – Damn the cargo, we’ll be on our way tonight
Groundlings cheered in wonder as she backed up from the mast
Baptizing them her water from the ballast fore and aft
Now she slips into our past

  Muitos acompanharam e saudaram a partida da maior aeronave até então construída. O som cadenciado acompanha os primeiros momentos do voo, relativamente tranquilos, mas nota-se que o piano, característico da calmaria inicial, não está mais ali. E então aos 6:55 a banda faz o sinal de SOS em código morse com as três guitarras, baixo e bateria, como se alertasse o ouvinte sobre o que estaria por vir:




  Entra um riff rápido, em um novo momento da música. Nave em pleno voo, constante, embora turbulento. A história conta que a tripulação deve que tomar diversas ações durante o voo, corrigindo o curso e compensando problemas. As fragilidades do R101 tornavam-se mais evidentes.

  O tom vai mudando gradualmente, tornando-se mais agudo, representando o acúmulo de problemas enfrentados. Novo sinal de SOS em código morse. Batidas descompassadas, riff mais acelerado, demonstrando a pressa e também a desorganização, resultado da falta de planejamento diante de problemas não previstos. Entra uma ponte com as guitarras em que é possível distinguir cada uma delas, seguida do solo de Dave Murray.

  Seguidas correções de curso foram necessárias para que a tripulação pudesse compensar os problemas estruturais do R101. Testemunhas da passagem da nave por Londres atestam que ela voava visivelmente ‘de lado’, inclinada em ao menos trinta graus, e com a proa já apontada para baixo.

  Novo momento de velocidade e tensão. Os tripulantes consideram novas alterações de curso, mas não reportam à base quaisquer problemas com o dirigível. Realizam, então, as trocas de turno, momento em que talvez algumas das informações tenham sido perdidas. A nova vigília decide então cruzar o Canal da Mancha. O riff cadenciado retorna, acompanhado de arranjos orquestrados, e ouvimos o solo de Adrian Smith representando a tensão da travessia: nenhuma referência, nenhum ponto de luz, apenas a água abaixo deles cada vez mais próxima.

Fighting the wind as it rolls you
Feeling the diesels that push you along
Watching the Channel below you
Lower and lower, into the night

  Duas horas depois de sair da costa inglesa o R101 completava a travessia do Canal, chegando ao norte da França muito fora do ponto de entrada pretendido. Nova correção no rumo é realizada, mas dada a distância do curso original a nova direção os leva à região de Beauvais, conhecida pelas péssimas condições climáticas.

Lights are passing below you
Northern France, asleep in their beds
Storm is raging around you
A million to one, that’s what he say

  Após a lembrança da irônica afirmação de “uma chance em um milhão” de acontecer uma catástrofe, o ritmo frenético da música é quebrado com um novo riff, com novos elementos de orquestra. Interpreto como um momento de dúvida, de incredulidade. Como poderia cair uma aeronave tão moderna, potente e majestosa?

Reaper standing beside her
With his scythe cut to the bone
Panic to make a decision
Experienced men, asleep in their graves

The cover is ripped and she’s drowning
Rain is flooding into the hull
Bleeding to death and she’s falling
Lifting gas is draining away

  O fim é iminente. A cobertura externa, que não passara nos testes mais amenos, não suportou a velocidade dos ventos e as manobras do R101, rompendo-se na região frontal e causando o vazamento de gás. A sustentação na proa diminuía a cada segundo e a nave pendia cada vez mais para a frente.

  A música é mais uma vez quebrada, desta vez com o retorno do piano, agora com notas críticas e agudas. Este momento representa o primeiro mergulho do R101, de 140 metros. A certeza da morte atinge todos a bordo. Um dos sobreviventes relataria que naquele momento o navegador chefe, G. W. Hunt, diria a famosa frase: “Nós caímos, rapazes!”, pouco antes do mergulho final.

We’re down lads – came the cry, bow plunging from the sky
Three thousand horses silent as the ship began to die
The flares to guide her path ignited at the last
The Empire Of The Clouds, just ashes in our past
Just ashes at the last

  Pouco a fazer restou à tripulação. O R101 atingiu o solo do norte da França e incendiou-se imediatamente. Seus motores de três mil cavalos silenciados para sempre.

Here lie their dreams, as I stand in the sun
On the ground where they built, and the engines did run
To the moon and the stars, now what have we done?
Oh, the dreamers may die, but the dreams live on
Dreams live on, Dreams live on



  Encerrava-se ali a primeira era britânica de desenvolvimento de aeronaves, programa que seria retomado apenas no período pós-Segunda Guerra, conforme relatado no livro de James Hamilton-Paterson.

Now a shadow on a hill, the angel of the east
The Empire Of The Clouds may rest in peace
And in a country churchyard, laid head to the mast
Eight and fourty souls, who came to die in France

  O R101 foi ao chão em 5 de outubro de 1930, matando 48 de seus 54 passageiros, incluindo o então Ministro Britânico do Ar e outros oficiais de alto escalão. Seus corpos foram velados com honras militares no Palácio de Westminster e sepultados no cemitério da Igreja St. Mary, em Cardington, todos voltados ao mastro de amarração de onde o R101 partira naquele fatídico dia.




Gostaram dessa análise, se sim comentem.




LordBenner



Fontes, créditos e referências externas:




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